terça-feira, 5 de julho de 2011

Desconcerto

Desconcerto

Desconcerto é um projeto de Aruan Mattos, Flavia Regaldo e Manuel Andrade e consiste na gravação de áudio analógica [como a dos discos de vinil] só que manual e caseira.
A partir de uma agulha de catéter, um tweeter e muitas horas foi possível reproduzir manualmente gravações de áudio. O CD se mostrou perfeito como suport. Primeiro porque é redondo, liso e tem um furo no meio, depois porque existem aos montes e gratuitamente como descarte de uma sociedade consumista.

Desconcerto

Para além de um simples anacronismo sentimos que precisavamos de um conteúdo que nos conectasse com o a nossa realidade, com o nosso tempo, afinal estávamos usando CDs já obsolescidos para fazer gravações analógicas, que aos poucos vem retomando sua importância a despeito de todas profecias catastróficas do apocalipse digital.
Sendo assim, descemos para o centro da cidade em busca de referências sonoras da realidade e atualidade da cidade, entrevistando diversas pessoas que por ali trabalhavam, pedindo-as que falassem de seus cotidianos no centro, os caminhos percorridos, os pontos de referência.

Muito mais que isso, sem perceber, o doce e hulmilde velhinho das balas nos dá referêcias claras sobre as aberrações do ideal de justiça capitalista higienista que vê como um inimigo o ambulante que, criativamente, foge à ao esquema selvagem do famigerado "Mercado de Trabalho", adocicando, perfumando e coloriando as vias cinzas de uma sociedade decadente e mecanizada...

"Só o tempo da Jovem Guarda mesmo que a gente gosta mais, né? Todas elas do Rei, né? por exemplo é... aquela música “Quando” né? Que marcou muito naquela época da jovem guarda... a gente era muito jovem naquela época, né? Todo mundo queria ser cantor naquela época, né? (Risadas), não podia ver a pessoa cantar que a gente queria ser cantor também, via o pessoal famoso cantando, pelo rádio, a gente acompanhava, mas não tinha condições de cantar no interior, né?
Cantar , cantar não é comigo, não, meu négocio é so vender minhas balinha mesmo. Eu trabalho como ambulante, já tem uns vinte anos, tinha barraca, perdemo as barraca na rua, esparro da rua, fomo pro shopping não adaptemo no shopping porque... o aluguel era muito caro, na época, as mercadoria não vendia, a gente teve que se virar pra rua, né?
Só me vivo através dos meu cliente, são meus amigos, não são cliente, são meus amigos, é o que me dá a sustentação do pão de cada dia...
Aqui eu vou aqui na Santos Dumont, desço a Caetés, Avenida Amazonas, Espírito Santo, de vez em quando eu vou na Paraná mas não fico muito que os fiscal não deixa. Correria, toda hora tão atrás da gente, já pegaram várias vezes minha mercadoria, levaram não devolveram, abusam da gente quando pegam a mercadoria. A gente é muito discriminado pela rua a fora, porque a gente é ambulante, discriminação total pelo, pela parte da prefeitura, administração, nossos governantes também não olham pra pessoa mais carente.
Todo dia, de segunda a sábado, só descansa aos domingo. Quando não to andando eu to parado aqui nesse pontinho aqui, oiando prum lado e pro outro pra os fiscal não vir correndo atrás de mim. Quando eles chega eu tenho que sair correndo, e é a correria.
Hoje é 9 de novembro de 2010"

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