Sem drogas sintéticas, sem roupas da moda, sem flúor, sem neon, sem maquiagem, sem cabelão, sem exaustor, sem nomes em inglês, sem referências a India, sem badulaques hippies vivendo em comunhão com o mato, sem a bicho-grilice que costumam rondar essas raves.
Eram índios, caboclos e ribeirinhos que com a havaiana no pé e um short cobrindo as vergonhas iam dançar freneticamente, até a música parar.
Muita coisa aconteceu desde que li isso. Descobri que a "rave de índio" é mais que isso, que o Calypso (a banda) é ponta de Iceberg, e que o Pará e as favelas cariocas fazem sons mais legais/originais/sagazes que a Inglaterra e os EUA juntos.
Aí o Bruno, do Urbe, dá a dica do seguinte livro disponível para download em PDF: “Tecnobrega, o Pará reinventando o negócio da música”, de Ronaldo Lemos.
Clica aqui e baixa.
Saquem a intro do livro:
"Terra do tucupi e do tacacá. Do cajá, umbu e açaí. Do carimbó,
calypso e brega. Guitarrada, tecnobrega, bregacalypso. Rica e
diversa, natural e culturalmente. Esta é Belém do Pará, cidade
do mercado ver-o-peso,1 das aparelhagem, das paradas gays,
da festa do Círio. No extremo Norte do Brasil, Belém reúne o
tradicional e o moderno, o antigo e o novo, tudo em um arranjo
sem igual.
É de lá que vem a banda Calypso, formada por Joelma, nos
vocais, e Chimbinha, na guitarra. Antes da Calypso, Chimbinha
era guitarrista ofi cial da maior parte das bandas bregas de
Belém. Ele também teve uma breve carreira solo, com o lançamento
do CD Guitarras que Cantam, em 1998 – uma obra de guitarrada,
ritmo popular em toda a Amazônia na década de 1980,
antes da era da lambada.
Uma pesquisa realizada pela DataFolha/Fnazca, em 2007, apontou
a Calypso como a banda mais ouvida do Brasil. Até aí, nada
1 O mercado ver-o-peso é uma movimentada feira livre de Belém. Ele abastece a
cidade com produtos alimentícios vindos do interior do Pará. Fica no lugar de um
posto fi scal, criado em 1688, que fi cou conhecido popularmente como lugar de vero-
peso. O apelido deu origem ao nome do mercado, já que era obrigatório ver o peso
das mercadorias que saíam ou chegavam à Amazônia, para arrecadar os impostos
correspondentes.
Introdução 17
de novo. Poderia tratar-se de mais um sucesso promovido pela
indústria cultural. É por trás desse sucesso que está o dado
mais curioso sobre a história do Calypso.
Joelma e Chimbinha inventaram um novo jeito de gravar e distribuir
músicas. A dupla, formada pela loira extravagante e um
experiente guitarrista, começou a gravar e vender sem apoio
de uma gravadora. Criaram seu próprio selo e distribuíram
seus CDs para grandes supermercados populares, freqüentados
por seus fãs. A fórmula inovadora deu certo. Vendidos a
preços baixos – entre R$ 5,00 e R$ 10,00 – os CDs não pararam nas prateleiras.
Quando já haviam estourado entre as classes populares do Pará
e outros estados do Nordeste, foram convidados pela produção
do “Domingão do Faustão” para se apresentarem no programa.2
Do estúdio para todo o Brasil, atingindo um público de todas as
idades, sexos e gostos.
Na revista Rolling Stone,3 em uma conversa com o Faustão,
Ricardo Franca Cruz revelou que quando a publicação foi lançada,
“a grande pergunta dos jornalistas (...) de todo o Brasil era:
a Banda Calypso vai ser capa algum dia?”. Espantado, Faustão
reagiu: “Ô loco! Uma matéria com a Calypso na Rolling Stone?”.
O editor respondeu dizendo que a revista cogita fazer “uma
matéria sobre o fenômeno Calypso, (...) entendê-lo no contexto
da indústria fonográfi ca e analisá-lo friamente”. O interesse não
seria pela música em si, mas pelo “modus operandi do grupo”.
Faustão concordou com a visão de Cruz: “Olha, quando eu coloquei
a Banda Calypso no programa, fi quei com medo, mas eu
também queria mostrar o fenômeno”, ele diz. “Como eles montaram
a estrutura invejável que eles têm, como eles mesmos
2 O “Domingão do Faustão” é líder de audiência nos domingos, entre os canais
de TV aberta. O programa também é número 1 em publicidade. Trinta segundos no
intervalo custam pouco mais de R$ 142 mil. Uma declaração do apresentador sobre
um produto custa em média R$ 405 mil, por 30 segundos.
3. Revista Rolling Stone Brasil, edição 13, outubro de 2007.
18 Tecnobrega
se vendem e como fi zeram o que podemos chamar de pirataria
institucionalizada. E outra coisa: criança adora Calypso. Eu vejo
pelo João, meu fi lho. Toda babá enfi a na cabeça de criança forró,
Calypso, Leozinho. Pra conseguir fazer o João gostar de Toquinho
foi duro, bicho. A formação da criança é através da babá”.
Com a grande exposição que teve nesse período, a banda passou
a ser assediada por gravadoras, selos e distribuidores de
toda sorte. No entanto, a Calypso já tinha o seu próprio esquema
de distribuição, seu próprio modelo de negócio. Com o sucesso
crescendo em ritmo exponencial, a banda virou inspiração para
os artistas de Belém.
E foi lá que encontramos uma cena curiosa e inovadora, pioneira
na maneira de produzir, distribuir e promover a música. O
circuito do tecnobrega espelha os novos modelos de produção
cultural, que estão emergindo das periferias globais. Ali encontramos
novos rumos para a cultura: os negócios, as relações
sociais e econômicas de uma nova era."
Pra fritar os olhinhos no monitor!
calypso e brega. Guitarrada, tecnobrega, bregacalypso. Rica e
diversa, natural e culturalmente. Esta é Belém do Pará, cidade
do mercado ver-o-peso,1 das aparelhagem, das paradas gays,
da festa do Círio. No extremo Norte do Brasil, Belém reúne o
tradicional e o moderno, o antigo e o novo, tudo em um arranjo
sem igual.
É de lá que vem a banda Calypso, formada por Joelma, nos
vocais, e Chimbinha, na guitarra. Antes da Calypso, Chimbinha
era guitarrista ofi cial da maior parte das bandas bregas de
Belém. Ele também teve uma breve carreira solo, com o lançamento
do CD Guitarras que Cantam, em 1998 – uma obra de guitarrada,
ritmo popular em toda a Amazônia na década de 1980,
antes da era da lambada.
Uma pesquisa realizada pela DataFolha/Fnazca, em 2007, apontou
a Calypso como a banda mais ouvida do Brasil. Até aí, nada
1 O mercado ver-o-peso é uma movimentada feira livre de Belém. Ele abastece a
cidade com produtos alimentícios vindos do interior do Pará. Fica no lugar de um
posto fi scal, criado em 1688, que fi cou conhecido popularmente como lugar de vero-
peso. O apelido deu origem ao nome do mercado, já que era obrigatório ver o peso
das mercadorias que saíam ou chegavam à Amazônia, para arrecadar os impostos
correspondentes.
Introdução 17
de novo. Poderia tratar-se de mais um sucesso promovido pela
indústria cultural. É por trás desse sucesso que está o dado
mais curioso sobre a história do Calypso.
Joelma e Chimbinha inventaram um novo jeito de gravar e distribuir
músicas. A dupla, formada pela loira extravagante e um
experiente guitarrista, começou a gravar e vender sem apoio
de uma gravadora. Criaram seu próprio selo e distribuíram
seus CDs para grandes supermercados populares, freqüentados
por seus fãs. A fórmula inovadora deu certo. Vendidos a
preços baixos – entre R$ 5,00 e R$ 10,00 – os CDs não pararam nas prateleiras.
Quando já haviam estourado entre as classes populares do Pará
e outros estados do Nordeste, foram convidados pela produção
do “Domingão do Faustão” para se apresentarem no programa.2
Do estúdio para todo o Brasil, atingindo um público de todas as
idades, sexos e gostos.
Na revista Rolling Stone,3 em uma conversa com o Faustão,
Ricardo Franca Cruz revelou que quando a publicação foi lançada,
“a grande pergunta dos jornalistas (...) de todo o Brasil era:
a Banda Calypso vai ser capa algum dia?”. Espantado, Faustão
reagiu: “Ô loco! Uma matéria com a Calypso na Rolling Stone?”.
O editor respondeu dizendo que a revista cogita fazer “uma
matéria sobre o fenômeno Calypso, (...) entendê-lo no contexto
da indústria fonográfi ca e analisá-lo friamente”. O interesse não
seria pela música em si, mas pelo “modus operandi do grupo”.
Faustão concordou com a visão de Cruz: “Olha, quando eu coloquei
a Banda Calypso no programa, fi quei com medo, mas eu
também queria mostrar o fenômeno”, ele diz. “Como eles montaram
a estrutura invejável que eles têm, como eles mesmos
2 O “Domingão do Faustão” é líder de audiência nos domingos, entre os canais
de TV aberta. O programa também é número 1 em publicidade. Trinta segundos no
intervalo custam pouco mais de R$ 142 mil. Uma declaração do apresentador sobre
um produto custa em média R$ 405 mil, por 30 segundos.
3. Revista Rolling Stone Brasil, edição 13, outubro de 2007.
18 Tecnobrega
se vendem e como fi zeram o que podemos chamar de pirataria
institucionalizada. E outra coisa: criança adora Calypso. Eu vejo
pelo João, meu fi lho. Toda babá enfi a na cabeça de criança forró,
Calypso, Leozinho. Pra conseguir fazer o João gostar de Toquinho
foi duro, bicho. A formação da criança é através da babá”.
Com a grande exposição que teve nesse período, a banda passou
a ser assediada por gravadoras, selos e distribuidores de
toda sorte. No entanto, a Calypso já tinha o seu próprio esquema
de distribuição, seu próprio modelo de negócio. Com o sucesso
crescendo em ritmo exponencial, a banda virou inspiração para
os artistas de Belém.
E foi lá que encontramos uma cena curiosa e inovadora, pioneira
na maneira de produzir, distribuir e promover a música. O
circuito do tecnobrega espelha os novos modelos de produção
cultural, que estão emergindo das periferias globais. Ali encontramos
novos rumos para a cultura: os negócios, as relações
sociais e econômicas de uma nova era."
Pra fritar os olhinhos no monitor!
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