quinta-feira, 7 de maio de 2009

Tecnobrega, o Pará reinventando o negócio da música

Oi galera, há alguns anos, mais de 10, lendo a Bizz, fiquei sabendo que tinha rave pra índio no Pará. Na beira de um rio dois Djs, apenas dois DJs, se revezavam para mais de 12, 15, 18, 20, 24 horas de música animando mais de 2000 pessoas numa pista dentro da mata.

Sem drogas sintéticas, sem roupas da moda, sem flúor, sem neon, sem maquiagem, sem cabelão, sem exaustor, sem nomes em inglês, sem referências a India, sem badulaques hippies vivendo em comunhão com o mato, sem a bicho-grilice que costumam rondar essas raves.

Eram índios, caboclos e ribeirinhos que com a havaiana no pé e um short cobrindo as vergonhas iam dançar freneticamente, até a música parar.

Muita coisa aconteceu desde que li isso. Descobri que a "rave de índio" é mais que isso, que o Calypso (a banda) é ponta de Iceberg, e que o Pará e as favelas cariocas fazem sons mais legais/originais/sagazes que a Inglaterra e os EUA juntos.

Aí o Bruno, do Urbe, dá a dica do seguinte livro disponível para download em PDF: “Tecnobrega, o Pará reinventando o negócio da música”, de Ronaldo Lemos.


Clica aqui e baixa.

Saquem a intro do livro:

"Terra do tucupi e do tacacá. Do cajá, umbu e açaí. Do carimbó,
calypso e brega. Guitarrada, tecnobrega, bregacalypso. Rica e
diversa, natural e culturalmente. Esta é Belém do Pará, cidade
do mercado ver-o-peso,1 das aparelhagem, das paradas gays,
da festa do Círio. No extremo Norte do Brasil, Belém reúne o
tradicional e o moderno, o antigo e o novo, tudo em um arranjo
sem igual.
É de lá que vem a banda Calypso, formada por Joelma, nos
vocais, e Chimbinha, na guitarra. Antes da Calypso, Chimbinha
era guitarrista ofi cial da maior parte das bandas bregas de
Belém. Ele também teve uma breve carreira solo, com o lançamento
do CD Guitarras que Cantam, em 1998 – uma obra de guitarrada,
ritmo popular em toda a Amazônia na década de 1980,
antes da era da lambada.
Uma pesquisa realizada pela DataFolha/Fnazca, em 2007, apontou
a Calypso como a banda mais ouvida do Brasil. Até aí, nada
1 O mercado ver-o-peso é uma movimentada feira livre de Belém. Ele abastece a
cidade com produtos alimentícios vindos do interior do Pará. Fica no lugar de um
posto fi scal, criado em 1688, que fi cou conhecido popularmente como lugar de vero-
peso. O apelido deu origem ao nome do mercado, já que era obrigatório ver o peso
das mercadorias que saíam ou chegavam à Amazônia, para arrecadar os impostos
correspondentes.
Introdução 17
de novo. Poderia tratar-se de mais um sucesso promovido pela
indústria cultural. É por trás desse sucesso que está o dado
mais curioso sobre a história do Calypso.
Joelma e Chimbinha inventaram um novo jeito de gravar e distribuir
músicas. A dupla, formada pela loira extravagante e um
experiente guitarrista, começou a gravar e vender sem apoio
de uma gravadora. Criaram seu próprio selo e distribuíram
seus CDs para grandes supermercados populares, freqüentados
por seus fãs. A fórmula inovadora deu certo. Vendidos a
preços baixos – entre R$ 5,00 e R$ 10,00 – os CDs não pararam nas prateleiras.
Quando já haviam estourado entre as classes populares do Pará
e outros estados do Nordeste, foram convidados pela produção
do “Domingão do Faustão” para se apresentarem no programa.2
Do estúdio para todo o Brasil, atingindo um público de todas as
idades, sexos e gostos.
Na revista Rolling Stone,3 em uma conversa com o Faustão,
Ricardo Franca Cruz revelou que quando a publicação foi lançada,
“a grande pergunta dos jornalistas (...) de todo o Brasil era:
a Banda Calypso vai ser capa algum dia?”. Espantado, Faustão
reagiu: “Ô loco! Uma matéria com a Calypso na Rolling Stone?”.
O editor respondeu dizendo que a revista cogita fazer “uma
matéria sobre o fenômeno Calypso, (...) entendê-lo no contexto
da indústria fonográfi ca e analisá-lo friamente”. O interesse não
seria pela música em si, mas pelo “modus operandi do grupo”.
Faustão concordou com a visão de Cruz: “Olha, quando eu coloquei
a Banda Calypso no programa, fi quei com medo, mas eu
também queria mostrar o fenômeno”, ele diz. “Como eles montaram
a estrutura invejável que eles têm, como eles mesmos
2 O “Domingão do Faustão” é líder de audiência nos domingos, entre os canais
de TV aberta. O programa também é número 1 em publicidade. Trinta segundos no
intervalo custam pouco mais de R$ 142 mil. Uma declaração do apresentador sobre
um produto custa em média R$ 405 mil, por 30 segundos.
3. Revista Rolling Stone Brasil, edição 13, outubro de 2007.
18 Tecnobrega
se vendem e como fi zeram o que podemos chamar de pirataria
institucionalizada. E outra coisa: criança adora Calypso. Eu vejo
pelo João, meu fi lho. Toda babá enfi a na cabeça de criança forró,
Calypso, Leozinho. Pra conseguir fazer o João gostar de Toquinho
foi duro, bicho. A formação da criança é através da babá”.
Com a grande exposição que teve nesse período, a banda passou
a ser assediada por gravadoras, selos e distribuidores de
toda sorte. No entanto, a Calypso já tinha o seu próprio esquema
de distribuição, seu próprio modelo de negócio. Com o sucesso
crescendo em ritmo exponencial, a banda virou inspiração para
os artistas de Belém.
E foi lá que encontramos uma cena curiosa e inovadora, pioneira
na maneira de produzir, distribuir e promover a música. O
circuito do tecnobrega espelha os novos modelos de produção
cultural, que estão emergindo das periferias globais. Ali encontramos
novos rumos para a cultura: os negócios, as relações
sociais e econômicas de uma nova era."

Pra fritar os olhinhos no monitor!

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